A Psicanálise no Ônibus Escolar (e nos Fones de Ouvido)
O que une Eleanor e Park não é só o assento apertado do ônibus, mas a necessidade inconsciente de se verem refletidos um no outro. Eleanor, com sua família caótica, desenvolve defesas tão grossas quanto seus suéteres coloridos , uma armadura contra a violência doméstica. Park, por outro lado, luta para se encaixar em um mundo que o trata como “exótico demais” ou “não suficientemente coreano”, usando a música como extensão do seu eu silenciado. A relação deles é um jogo de espelhos: ele projeta nela a coragem de ser diferente; ela vê nele a possibilidade de um porto seguro. A troca de mixtapes e quadrinhos funciona como sessões de terapia não marcadas: cada música, uma confissão; cada página, um pedaço de alma emprestado.
Fuga, Resistência e o Amor Como Açúcar Ilegal
A casa de Eleanor é uma prisão psicológica onde o padrasto é o carcereiro, e Park se torna seu único acesso à liberdade. Enquanto Freud diria que ela está presa no estágio de repetição (revivendo traumas), eu vejo Park como o “objeto transicional” dela, tipo um cobertor de segurança, só que com cabelo black power e playlists impecáveis. Já Park, que inicialmente teme o julgamento alheio, vive uma sublimação digna de nota: transforma a raiva do racismo em cuidado por Eleanor. A ironia? Eles se salvam sem perceber, como dois nerds tropeçando em um poder secreto.
Conclusão: Um Livro Que Vale a Pena (e o Tempo Que Você Não Tem)
Eleanor & Park é daqueles livros que você devora como um doce proibido: rápido, mas com culpa por querer que dure mais. A narrativa minimalista de Rowell é como um quarto vazio com apenas um post-it colorido na parede: parece pouco, até você ler o recado e sentir o mundo desabar. A estética simples esconde camadas de complexidade emocional, perfeita para quem gosta de histórias que respiram (e não apenas enchem páginas). Se você está cansado de romances água-com-açúcar, aqui está um que mistura mel e veneno, sem medo de sujar as mãos.
Doar horas a essa história é como investir em uma viagem de trem: você pode optar por uma passagem área e economizar tempo, mas perde uma paisagem que faz cada minuto valer a pena. E sim, a arte da simplicidade pode ser revolucionária. Rainbow Rowell não escreveu um livro, ela costurou um convite. Aceite-o.
Nota da Autora do Blog: Inaugurar um blog com resenhas assim é como tentar presentear o mundo com um buquê de flores em forma de letras. Sigam-me para mais devaneios literários afetados pela psicanálise, café coado e o ronronar de minhas gatas.
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