Eleanor & Park : quando o amor é um quebra-cabeça (e Freud nos ajuda a montar)


Em Omaha, nos anos 1980, dois adolescentes se esbarram no ônibus escolar como peças de universos paralelos: Eleanor, ruiva e deslocada, carrega o peso de uma família disfuncional e um guarda-roupa que grita “não me olhe”; Park, meio coreano e meio invisível em seu próprio bairro, esconde-se atrás de fones de ouvido e histórias em quadrinhos. Eleanor & Park, de Rainbow Rowell, é um romance que transforma a simplicidade do cotidiano em um mapa de afetos tortuosos. Vamos analisar essa jornada com óculos psicanalíticos (sem jargões, prometo!), descobrindo como amor e trauma se misturam como açúcar e sal. Pegue seu walkman imaginário e venha decifrar esse enigma comigo.  

A Psicanálise no Ônibus Escolar (e nos Fones de Ouvido)

O que une Eleanor e Park não é só o assento apertado do ônibus, mas a necessidade inconsciente de se verem refletidos um no outro. Eleanor, com sua família caótica, desenvolve defesas tão grossas quanto seus suéteres coloridos , uma armadura contra a violência doméstica. Park, por outro lado, luta para se encaixar em um mundo que o trata como “exótico demais” ou “não suficientemente coreano”, usando a música como extensão do seu eu silenciado. A relação deles é um jogo de espelhos: ele projeta nela a coragem de ser diferente; ela vê nele a possibilidade de um porto seguro. A troca de mixtapes e quadrinhos funciona como sessões de terapia não marcadas: cada música, uma confissão; cada página, um pedaço de alma emprestado.  

Fuga, Resistência e o Amor Como Açúcar Ilegal  

A casa de Eleanor é uma prisão psicológica onde o padrasto é o carcereiro, e Park se torna seu único acesso à liberdade. Enquanto Freud diria que ela está presa no estágio de repetição (revivendo traumas), eu vejo Park como o “objeto transicional” dela, tipo um cobertor de segurança, só que com cabelo black power e playlists impecáveis. Já Park, que inicialmente teme o julgamento alheio, vive uma sublimação digna de nota: transforma a raiva do racismo em cuidado por Eleanor. A ironia? Eles se salvam sem perceber, como dois nerds tropeçando em um poder secreto.



Conclusão: Um Livro Que Vale a Pena (e o Tempo Que Você Não Tem)

Eleanor & Park é daqueles livros que você devora como um doce proibido: rápido, mas com culpa por querer que dure mais. A narrativa minimalista de Rowell é como um quarto vazio com apenas um post-it colorido na parede: parece pouco, até você ler o recado e sentir o mundo desabar. A estética simples esconde camadas de complexidade emocional, perfeita para quem gosta de histórias que respiram (e não apenas enchem páginas). Se você está cansado de romances água-com-açúcar, aqui está um que mistura mel e veneno, sem medo de sujar as mãos.  

Doar horas a essa história é como investir em uma viagem de trem: você pode optar por uma passagem área e economizar tempo, mas perde uma paisagem que faz cada minuto valer a pena. E sim, a arte da simplicidade pode ser revolucionária. Rainbow Rowell não escreveu um livro, ela costurou um convite. Aceite-o.  

                                                                

Nota da Autora do Blog: Inaugurar um blog com resenhas assim é como tentar presentear o mundo com um buquê de flores em forma de letras. Sigam-me para mais devaneios literários afetados pela psicanálise, café coado e o ronronar de minhas gatas.


E aí, já leu? Conta nos comentários se você também ficou com vontade de proteger eles dois. E se ainda não leio e deseja tê-lo na sua estante, adquira o seu através do nosso link e ajude o blog! 

Título Original: Eleanor & Park ✦ Autora: Rainbow Rowell
Páginas: 328 ✦ Ano: 2012 ✦ Editora: Novo Século


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