No jogo, tudo desaba. A fantasia cai. Não tem sapatinho de cristal, mas tem exposição, vergonha e a perda do controle da narrativa. É ali que o superego bate mais forte: a culpa, o olhar do outro, o medo do cancelamento emocional.
A Apologia das Migalhas
A redenção de Sierra começa torta, como quase tudo nela. Mas é real. Ela pede desculpas, mas não apaga o passado. Só tenta ser honesta pela primeira vez. Cada pedido de perdão é uma tentativa de costurar uma ferida sem esconder a cicatriz. Ela começa a aceitar sua própria bagunça, como quem veste um suéter estranho e diz: “É feio, mas é meu.” A identidade não vem pronta, é um processo. E a maior coragem talvez seja desistir de parecer perfeita.
A comédia do filme serve como válvula de escape. É o riso como mecanismo de sobrevivência, o famoso “rir pra não chorar”. Sierra descobre que é possível rir de si mesma sem se destruir. O riso, aqui, é mais afeto do que defesa. Sierra não vira heroína. Só para de fugir. Sua jornada não é sobre se transformar, mas sobre aparecer na própria vida. Se a foto ainda sai tremida, tudo bem. Ela enfim aprendeu que o olhar mais importante é o seu próprio, e que amor-próprio é treino, não milagre.
Um curativo poético se permitido for:
A Sierra nos lembra que a jornada de se tornar quem se é, dói porque exige coragem para se encarar sem o conforto das fantasias. É como cantar desafinado na frente do espelho: desconfortável, parece sem sentido, mas é libertador. E só quem ousa cantar desafinado, cedo ou tarde, encontra sua própria melodia.
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🎬CLAQUETE:
Titulo Original: Sierra Burgess Is a Loser
Direção: Ian Samuels
Ano: 2020 (EUA)
Gênero: Comédia /Romance
Duração:1h 45min
Onde assistir: Netflix
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