"A Mais Pura Verdade" é que essa história vai te abraçar. Entenda o porquê.

 

Em “A Mais Pura Verdade”, livro lançado em 2015, pela Editora  Novo Conceito, Dan Gemeinhart nos apresenta Mark, um menino de doze anos que, diante de um câncer terminal, decide fugir de casa para alcançar o cume do Monte Rainier. Com uma mochila nas costas e seu cão fiel, Beau, ele deixa para trás os tratamentos dolorosos, a família angustiada e a melhor amiga, Jessie. O que poderia parecer apenas uma aventura se revela uma travessia interior, uma fuga do medo e, ao mesmo tempo, uma busca por sentido, por controle e por uma verdade sobre a vida que só se deixa ver quando estamos à beira de perdê-la.

 O psicanalista inglês Donald Winnicott falava da capacidade de estar só. Uma solidão que, paradoxalmente, só se constrói na presença de alguém. Mark acredita que ser forte é enfrentar tudo sozinho. Sua fuga soa como um ato de coragem, mas é também o reflexo de um medo profundo: o de ser um fardo, o de ser deixado para trás. Ao tentar transformar sua dor em heroísmo, ele não percebe que a verdadeira força pode estar justamente em permitir-se ser cuidado.

 A relação entre Mark e Jessie traduz o que Winnicott chamaria de um ambiente suficientemente bom. Jessie é o porto seguro que o deixa partir, ainda que isso a dilacere. Ela não o prende, apenas o sustenta com o fio invisível do afeto. Sua dúvida é de uma lucidez dolorosa: “Ao guardar o segredo dele, estou protegendo ou abandonando?” E é nesse dilema que reside a ternura mais humana do livro... o amor que se mede não pelo controle, mas pela responsabilidade.

 É então que a sabedoria do Pequeno Príncipe encontra espaço para soprar leve: “O essencial é invisível aos olhos.” O laço entre Mark e Beau é silencioso, mas absoluto. Beau não é um simples cachorro,  é o vínculo que ancora Mark à vida. Quando o menino precisa escolher entre proteger o cão ou entregar-se à tempestade, ele descobre, sem palavras, que amar é resistir. O essencial não era o cume, mas aquele corpo pequeno e quente que o lembrava de que ele ainda podia cuidar, e ser salvo por isso.

 A “verdade mais pura” do título não fala sobre a morte, mas sobre a vulnerabilidade. Ser forte não é não ter medo; é seguir apesar dele. Mark não queria morrer,  queria que sua vida importasse. E descobre, no limite, que o que dá sentido à existência são os laços que criamos. A montanha, afinal, era só o cenário da escalada mais íntima de todas: a de aceitar o amor.

 Precisei de uma pausa na leitura. O medo do que pudesse acontecer com Mark e Beau me atravessou de tal forma que deixei o livro de lado. Só voltei depois de incentivo de uma amiga, e então percebi que eu também estava vivendo o dilema de Mark: temendo seguir em frente porque o caminho doía. A Mais Pura Verdade me ensinou que não se trata de chegar ao cume, mas de aceitar companhia na subida.

 Sem spoilers, o final é um abraço. Ele confirma o que a psicanálise sugere sobre o poder dos vínculos, e o que O Pequeno Príncipe nos sussurra desde sempre: somos eternamente responsáveis pelos laços que criamos. Mark entende que a montanha que precisava vencer não era feita de gelo, mas de orgulho e dor. E só quando permite que os outros,  Jessie, os pais, o avô , o ajudem na descida, ele encontra paz.

 Sim, é um livro triste. Mas sua tristeza é fértil. Gemeinhart não fala sobre a beleza da morte, e sim sobre a beleza feroz de querer viver. Ler A Mais Pura Verdade é se permitir ser cativado por Mark, Jessie, Beau. E  lembrar que podemos ser o “ambiente suficientemente bom” que ajuda o outro a ser, estar, e até a se afastar, com a certeza de que o amor sempre encontra o caminho de volta.

Até a próxima, 

Elôh Santos 

LEIA TAMBÉM: 
Coraline e a porta que toda criança (e adulto) já teve vontade de abrir



Ficou com vontade ler? Adquira seu livros com oferta na Amazon. 
Basta clicar na imagem abaixo. 


Título: A Mais Pura Verdade  AutorDan Gemeinhart 
                                      Páginas: 175  ✦ Ano: 2015 ✦ Editora: Novo Conceito

Postar um comentário

0 Comentários