Eleanor & Park: Amor Adolescente, Repetição de Traumas e a Busca pelo Outro
- Eloina Santos
- 25 de mar.
- 3 min de leitura
Atualizado: há 4 dias

Em Omaha, nos anos 1980, dois adolescentes se esbarram no ônibus escolar como peças de universos paralelos: Eleanor, ruiva e deslocada, carrega o peso de uma família disfuncional e um guarda-roupa que grita “não me olhe”; Park, meio coreano e meio invisível em seu próprio bairro, esconde-se atrás de fones de ouvido e histórias em quadrinhos. Eleanor & Park, de Rainbow Rowell, é um romance que transforma a simplicidade do cotidiano em um mapa de afetos tortuosos. Vamos analisar essa jornada com óculos psicanalíticos (sem jargões, prometo!), descobrindo como amor e trauma se misturam como açúcar e sal. Pegue seu walkman imaginário e venha decifrar esse enigma comigo.
A Psicanálise no Ônibus Escolar (e nos Fones de Ouvido)
O que une Eleanor e Park não é só o assento apertado do ônibus, mas a necessidade inconsciente de se verem refletidos um no outro. Eleanor, com sua família caótica, desenvolve defesas tão grossas quanto seus suéteres coloridos , uma armadura contra a violência doméstica. Park, por outro lado, luta para se encaixar em um mundo que o trata como “exótico demais” ou “não suficientemente coreano”, usando a música como extensão do seu eu silenciado. A relação deles é um jogo de espelhos: ele projeta nela a coragem de ser diferente; ela vê nele a possibilidade de um porto seguro. A troca de mixtapes e quadrinhos funciona como sessões de terapia não marcadas: cada música, uma confissão; cada página, um pedaço de alma emprestado.
Fuga, Resistência e o Amor Como Açúcar Ilegal
A casa de Eleanor é uma prisão psicológica onde o padrasto é o carcereiro, e Park se torna seu único acesso à liberdade. Enquanto vejo a Eleanor presa no estágio de repetição (revivendo traumas), eu enxergo o Park como o “objeto transicional” dela — tipo um cobertor de segurança, só que com cabelo bonito e playlists impecáveis. Já Park, que inicialmente teme o julgamento alheio, vive uma sublimação digna de nota: transforma a raiva do racismo em cuidado por Eleanor. A ironia? Eles se salvam sem perceber, como dois nerds tropeçando em um poder secreto.

Conclusão: Um Livro Que Vale a Pena Seu Tempo Investido
Eleanor & Park é daqueles livros que você devora como um doce proibido: rápido, mas com culpa por querer que dure mais. A narrativa minimalista da Rainbow é como um quarto vazio com apenas um post-it colorido preso na parede: parece pouco, até você ler o recado e sentir o mundo desabar. A estética simples esconde camadas de complexidade emocional, perfeita para quem gosta de histórias que respiram (e não apenas enchem páginas). Se você está cansado de romances água-com-açúcar, aqui está um que mistura mel e veneno, sem medo de sujar as mãos.
Doar horas a essa história é como investir em uma viagem de trem: você pode optar por uma passagem área e economizar tempo, mas perde a paisagem — ah, a paisagem! — faz cada minuto valer a pena. E sim, a arte da simplicidade pode ser revolucionária. Rainbow Rowell não escreveu um livro, ela costurou um convite. Aceite-o.
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Título Original: Eleanor & Park ✦ Autora: Rainbow Rowell
Páginas: 328 ✦ Ano: 2012 ✦ Editora: Novo Século
Olá, linda!
Que resenha mais delicada, amei de verdade! Ouvi falar muito deste livro, mas nunca procurei saber exatamente sobre o que se tratava. Sua resenha está delicadamente profunda, e escritas assim , são tão boas de ler. Dá realmente uma satisfação.
Beijo
Confesso que sou um pouco avessar a romances adolescentes, mas como confio nas suas indicações, eu vou dar uma chance a este.
Achei interessante fazer uma análise psicanalítica da história. Gostei da resenha a ponto de querer ler o livro.