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A Culpa é das Estrelas": Entre o Infinito Particular e a Angústia Universal

Atualizado: há 3 dias

Em A Culpa É das Estrelas, John Green tece uma narrativa que, sob a superfície do romance juvenil, esconde profundas camadas psicanalíticas sobre como lidamos com a perda, a finitude e a necessidade de deixar marcas no mundo. Hazel Grace e Augustus Waters não são apenas dois adolescentes apaixonados — são dois seres humanos em confronto direto com o real da existência: a certeza da morte e o desejo de ser lembrado.


O Luto Antecipado e a Sombra da Morte

Hazel vive um luto antecipado: ela sabe que seu tempo é curto e, por isso, evita criar laços profundos para "poupar" os outros da dor de perdê-la (um mecanismo de defesa clássico, quase freudiano!). Gus, por outro lado, encara a vida com uma ironia grandiosa, como se sua perna perdida para o câncer fosse apenas um detalhe numa história épica. Os dois representam formas distintas de lidar com a angústia: Hazel com a racionalização, Gus com a sublimação (transformando a dor em humor e bravata).


O Objeto de Amor e a Completude Imaginária

Na psicanálise, o amor muitas vezes surge como uma tentativa de preencher uma falta — e Hazel e Gus se tornam, um para o outro, objetos de desejo que dão sentido ao caos. Gus vê em Hazel a garota "diferente", a heroína de sua tragédia romântica; Hazel vê em Gus a prova de que pode ser amada apesar da doença. A cena do Funky Bones (o parque com os ossos gigantes) é simbólica: eles deitam sobre os restos de algo que já morreu, mas ainda assim riem, como quem diz: "A vida é frágil, mas hoje estamos aqui".


A Busca por Significado e o "Infinito Dentro do Finito"

O livro questiona: O que faz uma vida valer a pena? Gus quer ser um herói, deixar um legado; Hazel teme ser uma "granada" que machucará todos ao explodir. A jornada até Amsterdam (para encontrar o escritor Van Houten) é uma metáfora da busca por respostas — mas, no fim, eles descobrem que o significado não está no "depois", e sim nos pequenos infinitos: nas conversas no porão, nas cartas não lidas, no céu estrelado que os dois dividem.


LIVRO A CULPA É DAS ESTRELAS

O Luto que Transforma, Não Paralisa

Quando Gus morre, Hazel enfrenta o luto de forma crua: ela sente raiva, saudade, e até alívio (outro tabu pouco explorado!). A psicanálise diria que o luto só se resolve quando conseguimos internalizar o objeto perdido — e Hazel faz isso ao ler a carta de Gus e ao assumir seu papel na história dele. Ela não "supera", mas aprende a carregar a dor sem deixar que ela a defina.


Conclusão: Um Livro sobre Viver, Não (Só) sobre Morrer

A Culpa É das Estrelas não é um livro sobre morte. É sobre como a consciência da finitude pode nos fazer amar com mais urgência, rir com mais gosto e abraçar as imperfeições da vida. Hazel e Gus nos lembram que o luto é o preço do amor — e que, mesmo sob o céu mais escuro, ainda há estrelas (e histórias) para nos guiar.




Nota da Autora do Blog: Inaugurar um blog com resenhas assim é como tentar presentear o mundo com um buquê de flores em forma de letras. Sigam-me, comentem e curtam as resenhas. Assim, vocês me ajudam a ter mais tempo para meus devaneios literários afetados pela psicanálise, café coado e o ronronar de minhas gatas.



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LIVRO A CULPA É DAS ESTRELAS

Título: A Culpa É Das Estrelas ✦ Autor: John Green

Páginas: 288  ✦ Ano: 2014 ✦ Editora: Intrínseca




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