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Alice Ayres e o Amor Líquido das Conexões Frágeis

Atualizado: há 7 dias

"Alice está voltando pra casa."  A frase que encerra o filme Closer – Perto Demais (2004) pode soar como um simples desfecho geográfico, mas não é. Porque, se formos honestos, o que essa mulher viveu não foi só uma viagem física — foi um tour emocional com paradas em cada estação do amor líquido de Zygmunt Bauman. E olha… sem direito a pausa para respirar.

Alice (Natalie Portman) chega em Londres com o olhar de quem busca novas histórias. E encontra. Mas o que ela talvez não esperasse era virar personagem coadjuvante do próprio enredo. Isso porque, ao entrar na vida de Dan (Jude Law), ela logo se vê deslizando por relações que mais parecem feitos de sabão: escorregadias, instáveis e cheias de espuma... muito volume, pouca densidade.


Alice Ayres e Jane Jones

Posso adentrar dizendo que nessa enredo vejo a Alice como o Eros que dá match, mas também como o Thanatos que some antes do café chegar. Enquanto os outros personagens discutem como crianças em um parquinho de areia movediça emocional, Alice… vai embora. Não se despede, não explica, chega a hora que ela compreende que afeta não se mendiga. Ela entende, como poucos, que relacionamentos exigem mais do que vontade: exigem maturidade. E quando ninguém mais alimenta o vínculo, ela fecha o episódio e segue para o próximo.

                               

Ela não é fria, nem desprendida no sentido vazio da palavra. Alice sente. Sente muito. Ama, sofre calada, observa tudo. Tem aquele olhar de quem está entendendo o jogo mesmo quando finge não estar jogando. A diferença é que, enquanto os outros personagens parecem fazer malabarismo emocional com pratos de porcelana, Alice escolhe não quebrar os seus, ela apenas os recolhe e segue em frente, com elegância e um salto de dignidade.


Dan, Anna ( Julia Roberts) e Larry (Clive Owen) estão ali como cenário dramático, quase como mobília relacional: ajudam a compor a narrativa, mas não são o centro dela. Alice é a única que se transforma de verdade. Enquanto os outros se repetem em círculos de carência, mentira e vaidade, ela percebe que a liberdade não é estar sozinha , é poder ir embora sem se perder.


Natalie portman e Jude Law em Closer

Minha conclusão? Alice chegou a Londres em busca de novas histórias, e viveu seu relacionamento com Dan de forma tão intensa que isso acabou moldando grande parte da sua identidade naquele período. Mas em algum momento ela se dá conta de que não precisa se resumir àquela dinâmica sufocante. E, corajosamente, escolhe sair do ciclo de relacionamentos tóxicos em que estava presa. O que o filme nos mostra é o processo dessa transição: de Alice de volta a Jane, com o mesmo ar livre e confiante da garota que cruzava ruas no início da trama.


Na peça de teatro que deu origem ao filme, Jane morre — o que dá um desfecho mais trágico à história. No entanto, o filme opta por um final mais ambíguo, e talvez até mais simbólico. A Jane que vemos na cena final não parece derrotada, mas sim renascida. Talvez a morte da peça tenha sido transformada em metáfora no cinema: a “Alice”, personagem criada para amar e sofrer, morre. E então Jane retorna, inteira, real, dona de si. A única certeza que fica é essa: ela vai embora, mas não foge. Vai porque escolheu ir.



Natalie portman é Alice Ayres

E sobre a lição que Alice nos deixa, é que, nesse lamaçal de amores líquidos, talvez a pergunta mais honesta seja: isso me traz alegria? Se a resposta for “não”, a gente agradece, se despede e doa o brinquedo emocional pra alguém mais disponível. Mas isso não faz dela alguém fria. Muito pelo contrário: ela amou intensamente, mas diferente dos demais personagens, ela entende toda instabilidade e toxicidade e quebrou o ciclo. Pois no universo  de Closer, onde todo mundo complica o óbvio, ela é a única que leu o manual de instruções  e ainda resumiu num tweet: Amor em versão líquida. Não compre móveis pesados.

            


🎬CLAQUETE :

Filme:Closer: Perto Demais 

Título original: Closer

Direção: Mike Nichols

Ano de lançamento: 2004 | Drama | Duração: 94 minutos

Distribuidor: Sony Pictures Releasing



1 Comment

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Vânia Soares
Vânia Soares
há 3 dias
Rated 5 out of 5 stars.

O que são pontos de vista né? Eu achava a Alice uma tança, vendo o cara escancaradamente chifrando ela , e ela ali, dando ibope pra macho toxico. Mas gostei porque você a viu de um outro ângulo. E verdade seja dita , ela realmente é a única que quebra do ciclo.

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